Numa economia cada vez mais digitalizada e baseada no conhecimento, já não é o aço, o petróleo ou o betão que definem a força de uma empresa – é o seu capital intelectual. As ideias, a criatividade, os algoritmos, as marcas e as patentes tornaram-se as novas matérias-primas do século XXI. No entanto, apesar de serem os motores silenciosos do crescimento económico, continuam a ser subestimados, mal contabilizados e, muitas vezes, mal compreendidos.
Os recursos intangíveis – tudo aquilo que não se pode tocar mas que tem valor – representam hoje a espinha dorsal das empresas mais bem-sucedidas do mundo. Basta olhar para gigantes como a Apple, a Google ou a Tesla: o que realmente as diferencia não são as fábricas ou os equipamentos, mas sim o conhecimento protegido, a inovação registada, a marca consolidada e o capital humano altamente especializado. O que o balanço financeiro mostra é apenas uma sombra do seu verdadeiro valor.
A propriedade industrial como ativo estratégico
Dentro deste universo de intangíveis, os ativos de propriedade industrial (patentes, marcas, desenhos, modelos, segredos comerciais) são particularmente relevantes porque transformam a criatividade em direitos exclusivos – e, por consequência, em poder económico. Uma patente protege uma invenção tecnológica e garante ao seu detentor o monopólio temporário sobre a exploração; uma marca distingue produtos e serviços num mercado saturado; um desenho industrial confere identidade estética e valor emocional.
Mas o problema é que, em muitas empresas, especialmente nas PME, estes ativos são vistos como algo burocrático ou supérfluo. Investe-se em maquinaria, mas não se investe em registar a inovação que essa maquinaria produz. Cria-se uma marca forte, mas não se protege o nome nem o logótipo. Desenvolve-se tecnologia, mas não se documenta o seu caráter inovador. O resultado é previsível: ideias roubadas, marcas copiadas, e valor destruído antes sequer de ser reconhecido.
A subvalorização que empobrece as empresas
A subestimação dos ativos intangíveis é uma das maiores fragilidades estruturais da economia europeia – e portuguesa em particular. Enquanto nos Estados Unidos e na Ásia o investimento em propriedade intelectual é encarado como uma estratégia de defesa e expansão, em Portugal ainda é visto como um custo administrativo.
A ironia é que, num mundo globalizado, a ausência de proteção jurídica equivale a entregar gratuitamente o fruto da inovação aos concorrentes.
As empresas portuguesas que exportam tecnologia, design ou produtos diferenciados estão, muitas vezes, a competir em mercados onde os direitos de propriedade industrial são a moeda de troca mais valiosa. Uma patente registada pode ser a diferença entre ser comprado ou ser copiado; uma marca bem posicionada pode ser o elemento que transforma um produto banal num símbolo de confiança; um portefólio de PI sólido pode ser o ativo que atrai investidores e abre portas ao financiamento.
De custo a investimento estratégico
A mentalidade precisa de mudar: proteger não é gastar, é investir. E o investimento em propriedade industrial deve ser visto como parte integrante da gestão estratégica do conhecimento.
Hoje, quem domina o conhecimento domina o mercado. E quem não protege o conhecimento que gera, está a financiar, involuntariamente, o progresso alheio.
Esta mudança de paradigma implica também um esforço institucional. É necessário que o Estado e as entidades de apoio à inovação (como o INPI, IAPMEI ou AICEP) simplifiquem processos, clarifiquem custos e promovam formação sobre a importância destes ativos. A literacia em propriedade intelectual é ainda muito baixa em Portugal, tanto entre gestores como entre empreendedores e técnicos.
Por outro lado, as universidades e centros de investigação devem ser encorajados a transformar as suas descobertas em patentes transferíveis, e não apenas em artigos científicos. É preciso ligar o conhecimento à economia real, e a propriedade industrial é a ponte mais direta para isso.
A economia do invisível
Vivemos numa era em que o valor é cada vez mais imaterial. O software vale mais do que o hardware; o design vale mais do que o material; a marca vale mais do que o produto.
Neste contexto, os ativos de propriedade industrial são o alicerce jurídico e económico do crescimento sustentável. São eles que permitem que a inovação se traduza em valor tangível, que o risco de inovar seja compensado, e que o talento tenha um retorno mensurável.
Ignorá-los é condenar-se à irrelevância. Reconhecê-los é abrir a porta ao futuro.
Em suma, na economia do conhecimento, o invisível é o que mais vale. E o sucesso das empresas do futuro dependerá não apenas da sua capacidade de criar, mas da sua capacidade de proteger o que criam – e de transformar esse conhecimento protegido em vantagem competitiva.
Porque, no fim de contas, a inovação só tem valor quando é defendida.